Arquivo mensal: dezembro 2013

Madiba, o gigante da Paz

Região montanhosa, próxima a Johannesburg, África do Sul, 1989.

O consultor Peter Senge, pesquisador na área de mudança organizacional, conta que dirigia um workshop de três dias sobre liderança, com trinta participantes, metade executivos brancos, metade organizadores comunitários negros. Muitos participantes correram riscos pessoais para participar do programa.

Peter Senge

Peter Senge

No ultimo dia do evento, o grupo ficou sabendo que o presidente Frederic de Klerk iria falar à nação e decidiu fazer um intervalo para reunir-se diante da televisão. Esse foi o famoso discurso que apressou o fim do apartheid. Em meio à fala, de Klerk começou a enumerar todas as organizações negras postas na clandestinidade e que agora seriam reconhecidas. Anne Loetsebe, uma das líderes comunitárias, ouvia com a máxima atenção. Seu rosto se iluminava cada vez que de Klerk mencionava uma organização: o African National Congress (ANC), a Pan Africanist Conference e por aí afora. Ela disse, mais tarde, que quando um nome era mencionado, via com os olhos da mente os rostos de parentes e amigos que agora poderiam voltar para casa.

Finda a comunicação, o grupo voltou a se reunir e concluiu os trabalhos. À tardinha, como era de hábito no programa, assistiram a um vídeo de “Eu tenho um sonho”, de Martin Luther King. Esse discurso fora proibido na África do Sul e muitos dos participantes do workshop jamais o tinham visto.

O programa se encerrou e com a abertura dada a cada um de dizer o que quisesse. As primeiras quatro pessoas teceram comentários amáveis sobre o que aprenderam acerca de si mesmas e sobre liderança. A quinta pessoa a falar foi um executivo holandês sul-africano grandalhão. Alguns consultores experientes haviam confidenciado a Peter que, na África do sul, executivos brancos costumavam demonstrar “baixo nível afetivo”, ou seja, revelavam pouquíssima emoção. Aquele homem, muito contido durante todo o programa, certamente se encaixaria nesse perfil. Levantou-se e olhou diretamente para Anne. “Quero que você saiba que fui criado para pensar que você é um animal”, disse. E desatou a chorar. Anne apenas lhe devolveu o olhar e fez um aceno de cabeça.

“Quando vi aquilo”, conta Peter, “percebi que um nó enorme estava sendo desatado. Não sei como descrever a cena e só direi que foi como se uma corda se desatasse e se partisse. Eu sabia, intuitivamente, que o que mantivera aquele e muitos outros homens prisioneiros de seu passado estava se rompendo. Começavam a tornar-se livres. Embora Nelson Mandela ainda se encontrasse na prisão de Robben Island e eleições livres tivessem de aguardar ainda quatro anos, em momento algum duvidei de que, dali em diante, uma mudança importante e duradoura ocorreria na África do Sul.”

Província de Umtata, África do Sul, 1918

Aos 18 de Julho, às 14h54, nascia Rohlihlala Dalibhunga Mandela, filho de Nkosi Mphakanyiswa Gadla Mandela, descendente do clã Madiba, dominante da nação Xhosa.

A escola branca, hábil em destruir a identidade cultural do provo dominado, tinha por hábito renomear as crianças negras, dando-lhes nomes brancos tradicionais. E foi assim que Rohlihlala recebeu o nome pelo qual seria internacionalmente conhecido: Nelson Mandela.

Mandela, o mapa astrológico por trás do homem

Mandela nasce com Sagitário ascendente, signo associado às buscas pela liberdade. Na Casa VIII do seu mapa natal, o Sol em Câncer tem Plutão oriental, ou seja, o poder colocado a serviço da transformação social.

MandelaDigo transformação social porque Mandela tem o planeta Marte no signo de Libra, símbolo inequívoco de luta pela justiça e pela igualdade. Ainda mais no início da Casa XI, a casa das grandes causas e revoluções, do serviço prestado à Humanidade. O guerreiro da tribo Xhosa emprestaria sua força à causa de uma África do Sul livre e igualitária, onde ninguém seria “vítima de indignidades ou violência”, como disse em seu discurso de posse no cargo de Presidente de seu país.

Observe-se que Saturno em Leão, na Casa IX, faz um sêxtil (ângulo de sessenta graus, muito positivo) com Marte. À força e combatividade do guerreiro, juntam-se a disciplina e a resistência, o que nos faz lembrar de Napoleão Bonaparte, que dizia que “a primeira qualidade do soldado é a constância em suportar a fadiga; a valentia é apenas a segunda”.

E, como veremos adiante, que fadigas suportou Mandela!

Ingressa no curso jurídico da Universidade de Witwatersrand aos vinte e cinco anos, quando Júpiter (planeta associado aos estudos superiores) progredido alcançou o Sol.

Em 1948, o planeta Marte, progredindo no mapa natal de Mandela, ingressa em Escorpião, signo de sua regência.

Nesse ano, a vitória da extrema direita branca nas eleições o governo, com o Partido Nacional, iria dar início a um regime segregacionista como nunca se vira antes na história.

Começa aí, talvez, a grande e definitiva guerra de Mandela, o que ele chamou de sua “longa caminhada para a liberdade”, título de sua autobiografia.

Em 1952, Urano ativa o planeta Marte no mapa natal de Mandela. Neste ano, inicia-se a Campanha do Desafio, com o Dia do Protesto. Negros de todo o país são convocados a ocupar espaços reservados exclusivamente aos brancos, nos restaurantes, banheiros públicos, repartições, etc. Ao longo desse ano, Mandela é preso varias vezes.

Em 1961, em plena oposição Urano-Urano em seu mapa natal, Mandela cria o movimento “A Lança de Uma Nação”, o braço armado do CNA (Congresso Nacional Africano, partido de Mandela e organismo líder da luta contra o apartheid). Mandela então assumia que a luta contra o regime segregacionista já não poderia ser levada adiante sem violência.

Observe-se que nesse período Urano está em sesquiquadratura (ângulo de 135 graus) com Marte, no mapa natal de Mandela. A oposição de Urano (no céu) a Urano (no mapa natal de Mandela) ativa essa sesquiquadratura de forma bastante intensa. Nessa época, Mandela passa a usar uma barba ao estilo Che Guevara e roupas militares camufladas. Fala-se, hoje, que teria recebido treinamento sobre o uso de armas, sabotagem e combate corpo a corpo, ministrado por agentes do Mossad, o serviço secreto israelense.

Em Junho de 1964, quando Urano passava pelo Meio do Céu em seu mapa natal (o ponto mais alto da carta), Mandela é julgado por todos os seus atos considerados “terroristas” e condenado à prisão perpétua.

Vinte e sete anos de prisão

Na prisão da ilha Robben, Mandela ocupava um cubículo de dimensões reduzidas e fazia trabalhos forçados.

A Lua no signo de Escorpião, na Casa XII do mapa natal, tradicionalmente associada a prisões e hospitais, é mais Nelson Mandelauma das marcantes configurações astrológicas de Mandela. Muito sofrimento lhe trouxeram esses anos, além da prisão em si. Sua mãe morre em 1968, acreditando que o filho fosse um criminoso, pois nunca entendera a sua luta. E no ano seguinte, seu filho Thembi morre em um acidente automobilístico.

A Lua em Escorpião é para muitos indicativo de rancor, de mágoas guardadas. Mas parece ter causado efeito inverso em Mandela. Ali ele aprendeu a pensar a logo prazo, escreveu, planejou. E conheceu mais de perto os brancos contra os quais envidara esforços de libertação. Aprendeu sua língua e seus costumes.

E o efeito transmutador de Escorpião fala mais alto. Conhecer o inimigo direciona Mandela a uma atitude apaziguadora, típica do seu Marte em Libra.

Mais tarde, o jovem branco François Pienar, capitão da equipe de Rugby da África do Sul em 1995, ao se referir ao tempo de prisão de Mandela, diria: “Penso em como alguém que foi forçado a passar vinte e sete anos vivendo num cubículo sai dele pronto a perdoar quem o colocou lá”.

Libertação

Em Fevereiro de 1990, com Urano em trígono (ângulo de 120 graus, altamente positivo) com o seu Meio de Céu, Mandela é libertado.

O depoimento de Peter Senge, acima, mostra o contexto em que vivia a África do Sul, naquele momento.

Um nó emocional, violento, segregador e impregnado de ódio, começava lentamente a se desatar.

Nobel da Paz e eleição presidencial

Com o Sol (astro associado à autoridade) ativado simultaneamente por Plutão e Urano, os grandes transformadores, Mandela divide o Prêmio Nobel da paz com de Klerk.

Em seu discurso, assinalou: “O valor deste prêmio que dividimos será e deve ser medido pela alegre paz que triunfamos, porque a humanidade comum que une negros e brancos em uma só raça humana teria dito a cada um de nós que devemos viver como as crianças do paraíso”.

No ano seguinte, Mandela é eleito Presidente de seu país. Inicia-se um longo e complexo processo de unificação, queMandela Punho deveria começar com a gradual destruição das barreiras entre brancos e negros.

Em seu discurso de posse, Madiba, como é carinhosamente chamado por seus seguidores, em honra ao seu clã de origem, assinala:

“Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor da sua pele, da sua origem ou da sua religião. Para odiar, é preciso aprender. E, se podem aprender a odiar, as pessoas também podem aprender a amar”.

Madiba e os Astros

A África do Sul ainda é um país cheio de contrastes e desigualdades. Mas graças a Mandela e sua liderança inspiradora, iniciou pacificamente o seu processo de transição política.

ObamaUma liderança que fez o presidente Barack Obama referir-se a ele, em discurso na cerimônia fúnebre, em Johannesburgh, como um “gigante da justiça”. E continua Obama, também ele o primeiro negro a ser eleito presidente de seu país:

“Embora eu me sinta sempre abaixo do exemplo de Mandela, ele me faz querer ser um homem melhor. Deixemo-nos buscar por sua força, sua grandeza de espírito, em algum lugar dentro de nós. E quanto a noite estiver escura, quando a injustiça pese sobre nossos corações, pensemos em Madiba”.

E como explicar, à luz da milenar ciência dos céus, esse fenômeno de liderança?

Na verdade, a mais marcante configuração astrológica no mapa natal de Mandela não é a sesquiquadratura entre Marte e Urano, que faz o guerreiro das grandes causas. Ou o sêxtil de Marte e Saturno, que confere a resistência ao guerreiro. Ou ainda Mercúrio, igualmente em sêxtil com Marte, que lhe confere uma oratória bombástica. Ou o ascendente em Sagitário, que o inspira a iniciativas pela liberdade. Ou mesmo a transmutadora posição da Lua no signo de Escorpião, que lhe instiga o perdão, mesmo aos seus perseguidores. Ou sequer a posição do planeta Marte no signo de Libra, que o leva a lutar ferrenhamente pela justiça.

Ao observarmos, vemos que o ponto mais marcante, a configuração dominante do mapa natal de Mandela é o planeta Vênus!

Ou seja, o planeta do amor, do sentimento, da sensibilidade.

Foi portanto, por amor, que Mandela fez o que fez. Foi por Amor que abdicou da posição nobre em seu clã de origem e foi estudar Direito.

Foi por Amor que convocou seus irmãos à luta por um mundo melhor.

Foi por Amor que deu o exemplo de perdão e redenção que tornou a África do Sul “um farol luminoso para todos os povos”, segundo suas próprias palavras.

E foi por Amor que resistiu bravamente aos impiedosos vinte e sete anos de reclusão e trabalhos forçados, em que aprimorou o caráter, o comportamento e os ideais.

A esse respeito, vale citar o poema de autoria do escritor britânico William Ernest Henley (1849-1903), que, segundo o próprio Mandela, deu-lhe forças para enfrentar a injustiça, as dores e angústias da prisão e continuar a sua caminhada pela liberdade.

Invictus

Desde a noite que sobre mim se abate

Negra como um insondável abismo

Agradeço a quaisquer deuses que existam

Por minha alma inconquistável.

Sob as garras cruéis das circunstâncias

Eu não recuei e nem me gritei

Sob os duros golpes do destino

Minha cabeça sangra, mas permanece erguida

Mais além deste lugar de fúria e lágrimas,

Jazem os horrores da sombra.

Mas a ameaça do tempo

Me encontra e me encontrará, destemido.

Pouco importa quão estreito seja o portão

Quão repleta de castigos a sentença,

Eu sou o senhor do meu destino

Eu sou o capitão da minha alma.

William Ernest Henley

William Ernest Henley

 

 

 

 

 

 

 

 

Dica cinematográfica

invictusO filme Invictus (USA, 2009), dirigido Clint Eastwood, em que você vai ver a história verdadeira de como Nelson Mandela atua usando o esporte como ferramenta de unificação do país.  Morgan Freeman, no papel de Mandela, e Matt Damon dão um show de interpretação.

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Mandela e Pienar, na conquista da Copa do Mundo de Rugby

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Morgan Freeman e Matt Damon revivem a cena no filme Invictus

 

 

 

 

 

 

 

 

Você descobrirá qual é a verdadeira essência da liderança: o Amor.

Clint EastwoodDetalhe: o diretor Clint Eastwood tem ascendente a dezoito graus de Escorpião. Se fizermos uma sinastria, ou seja, se cruzarmos os mapas , veremos que esse ponto coincide com a posição da Lua de Madiba. Talvez tenha sido por isso que Eastwood conseguiu retratar tão bem a luta, as angústias e, sobretudo, o Amor de Nelson Mandela.

 

 

Nota

Não encontrei nenhuma tradução que julguei inteiramente adequada ao poema Invictus. Assim sendo, peguei trechos de umas e outras traduções e, quando nem assim fiquei satisfeito, fiz eu mesmo algumas inserções.

Como dizem os italianos, ogni traduttore é um traditore, um trocadilho para dizer que todo tradutor é um traidor.

Assim sendo, para evitar traições, já que o meu inglês não é dos melhores, aí vai o original.

Invictus

Out of the night that covers me,

Black as the pit from pole to pole,

I thank whatever gods may be

For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance

I have not winced nor cried aloud.

Under the bludgeonings of chance

My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears

Looms but the Horror of the shade,

And yet the menace of the years

Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,

How charged with punishment the scroll,

I am the master of my fate:

I am the captain of my soul.

O Sol entra no Signo de Capricórnio – Solstício de Verão

Neste 21 de Dezembro, precisamente às 14h11 (desconsiderado o Horário de Verão), o radioso astro do dia, em seu contínuo e inexorável caminho através do Zodíaco, adentra o signo de Capricórnio, iniciando um novo ciclo cósmico e uma nova estação.

Esse fenômeno cósmico-astronômico coincide com a ocorrência do Solstício de Verão, para o Hemisfério Sul, e de Inverno, para o Hemisfério Norte.

Fecha-se, portanto, o ciclo anual, com a última das estações, período de abundância e plenitude da Natureza.

Mitologicamente, o signo de Capricórnio é associado ao Deus , símbolo da natureza e da Totalidade. Irmão adotivo de Júpiter, Pã tinha aspecto antropozoomorfo, ou seja tinha forma mista de homem e animal:  patas e chifres de bode e corpo peludo, assemelhando-se, no restante, ao humano. Era dotado de prodigiosa agilidade e força fecundante, envolvendo-se sempre em orgiásticas festividades com as ninfas dos bosques; dava-se prazer, inclusive, se não pudesse obtê-lo com alguma companheira. Teve uma importante participação na luta dos olímpicos contra os Titãs: em meio à batalha, tira uma concha em forma de caracol que trazia presa à cauda e sopra-a com força, fazendo ecoar tão poderoso e tonitruante som que os Titãs (símbolos das forças cegas da Natureza) se põem em desabalada fuga.

Simbolicamente, o signo de Capricórnio relaciona-se com a montanha, símbolo da estabilidade e sedimentação, mas também da elevação ascética e da iniciação. É relevante ressaltar que todas as tradições apresentam mitos concernentes à revelação feita numa elevação: é o caso do Monte Fuji-Yama, sagrado para os xintoístas; ou do Monte Sinai, onde Moisés recebeu as Tábuas dos Mandamentos; ou ainda do Monte Ararat, o único ponto poupado das águas do Dilúvio, onde pousou a Arca de Noé. O próprio Cristo foi crucificado no alto de um monte, o Calvário, símbolo de sua proximidade com os céus. Esse é um motivo pelo qual comemoramos o seu nascimento no período em que o astro-rei transita por Capricórnio: o Sol, símbolo do Salvador, o que tira os pecados do mundo, brilhando no ponto “mais alto” do Zodíaco, Capricórnio, símbolo por excelência das elevações e montanhas.

Uma outra associação simbólica que comumente é feita a Capricórnio e a seu planeta regente, Saturno, é a do joelho, que permite fazer as escaladas (que, invariavelmente, oferecem obstáculos), mas, atingido o cume da montanha, permite-nos, também, fazer a genuflexão diante do Sagrado, para receber, do Criador, as bênçãos e a Iniciação.

Durante a estada do Sol em Capricórnio, portanto, o Cosmos nos convida a reconhecimento da plenitude e integralidade da Natureza (inclusive a Natureza humana), a mesma plenitude que traz, em seu bojo, a sonoridade primordial que expulsa as forças cegas que nos enchem de pânico. Mas que nós possamos, também, ter a humildade e a disposição para escalar as montanhas, tanto as da existência cotidiana como também aquelas que nos elevam a maiores realidades. E que possamos celebrar a estação do Verão com alegria e plenitude, mas que, sobretudo, essa plenitude esteja também presente em nossas almas.

Aproveite também o momento para conscientizar-se acerca de tudo aquilo que, em sua vida, precisa ser melhor sedimentado, realizado e cristalizado. Os impulsos que você der agora aos seus projetos tenderão a tornar-se em efetividade consistente e estável.

Aproveitamos o momento para desejar aos capricornianos uma linda celebração de aniversário. E a todos os amigos um Feliz Verão!